Posições de Lula sobre Ucrânia e China desafiam envio de recursos dos EUA para Amazônia
Escrito por Nilson Oliver em 21 de Abril, 2023
As posições do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a Ucrânia e a China podem prejudicar a aprovação no Congresso americano de recursos para a Amazônia.A reputação de Lula está em queda livre nos Estados Unidos. Os republicanos já têm zero boa vontade em legalizar verbas para a Amazônia. Com Lula uma vez que destinatário desse numerário, a disposição pode ser ainda menor. E, sem eles, nenhum projeto passa na Câmara dos Deputados.A Vivenda Branca anunciou nessa quinta-feira (20) a proposta de destinação de US$ 500 milhões para o Fundo Amazônia, além dos US$ 50 milhões já prometidos. Aliás, o projeto de lei Amazon Act prevê US$ 4,5 bilhões para toda a Bacia Amazônica ao longo de vários anos. Mas tudo isso depende de aprovação no Congresso. Em um fórum sobre virilidade e clima promovido pelo presidente dos EUA, Joe Biden, nesta quinta-feira, Lula reiterou seu compromisso de zerar o desmatamento proibido e pressionou os países desenvolvidos a satisfazer suas promessas de destinar recursos aos países em desenvolvimento para a conservação ambiental.“Se a reputação de Lula fosse uma ação na Bolsa de Valores, estaria vivendo o crash de 1929”, definiu à CNN um ex-funcionário republicano do governo americano. “Estaria na Grande Depressão.”Ele avalia que as atitudes do presidente brasiliano colocam o governo de Joe Biden numa situação delicada para proteger a parceria com o Brasil, no contexto dos embates políticos com os republicanos, e da corrida presidencial, que começou prematuramente nos Estados Unidos, embora a eleição seja só em novembro do ano que vem.A estudo é semelhante à de Nicholas Zimmerman, da consultoria WestExec Advisors, que trabalhou no governo de Barack Obama (2009-2017), cujas equipes de relações exteriores, resguardo e segurança vernáculo são quase as mesmas da gestão Biden.“Os democratas têm que negociar o numerário com o Congresso, e partir para o ataque não está ajudando”, disse Zimmerman, referindo-se às acusações de Lula de que os EUA e a Europa estão incentivando a guerra.Os movimentos de Lula para intensificar a parceria com a China também não ajudam.“Os republicanos estão muito incomodados com a China”, acrescentou Zimmerman, pesquisador de assuntos brasileiros no Wilson Center, em Washington.“Obviamente dificulta a negociação. Evidente que não é responsabilidade do governo brasiliano a negociação com o Congresso, e os fundos para o meio envolvente são devidos. Mas torna mais complicado para Biden.”A CNN apurou que a paciência de funcionários do governo norte-americano com as posições brasileiras em relação à Ucrânia já estava chegando ao limite antes mesmo da viagem do assessor próprio Celso Amorim a Moscou, de Lula a Pequim e do chanceler russo Sergey Lavrov a Brasília.Depois desses gestos, e das declarações de Lula em Pequim e Abu Dhabi, criticando o espeque militar do Oeste à Ucrânia, a situação se tornou ainda mais sátira.O mentor de Segurança Vernáculo americano, Jake Sullivan, reforçou na conversa na quarta-feira com Amorim que a enunciação de Lula de que os EUA e a Europa estão incentivando a guerra é “errada”, uma vez que haviam dito antes dois porta-vozes da Vivenda Branca.Por outro lado, o governo Biden deseja levar adiante a parceria com o Brasil, apesar dessas limitações, sobretudo por desculpa do potencial na espaço ambiental. Mas o presidente americano depende do Congresso e, portanto, da maioria republicana na Câmara.Em princípio, o Amazon Act depende também do espeque de 10 dos 49 senadores republicanos, para atingir a maioria qualificada de 60 dos 100 votos da Vivenda. Mas em tese os recursos poderiam ser incluídos numa lei orçamentária, para a qual 50 votos democratas seriam suficientes.“Os americanos não esperam alinhamento automático”, analisa Zimmerman. O consultor avalia que Lula “está claro” quando diz que não pensa em Pequim quando está em Washington e vice-versa.“O governo Biden tem maturidade para entender isso, e quer investir no meio envolvente.”Os planos de destinação de recursos para o meio envolvente são bastante anteriores à ida de Lula a Pequim: remontam ao início do governo Biden e até a suas promessas de campanha em 2020.O Brasil também não deve interpretar que são uma reação a seus movimentos em direção à China, e que, portanto, sua estratégia de extrair vantagens dos dois lados está rendendo frutos. Pelo contrário: é apesar deles. Compartilhe: