Investigação da PF revela áudios inéditos sobre o envolvimento de militares e civis no suposto plano de golpe
Escrito por Nilson Oliver em 24 de Fevereiro, 2025
Áudios inéditos revelados neste domingo (23), pelo Fantástico, da TV Orbe, mostram o envolvimento de militares e civis no projecto para tentar um golpe de Estado a partir da guião eleitoral de Jair Bolsonaro (PL) em 2022. O teor foi tirado de celulares e computadores apreendidos durante investigações da Polícia Federalista. Na última semana, Bolsonaro e outras 33 pessoas foram denunciadas pela Procuradoria-Universal da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federalista (STF) por tentativa de suprimir o Estado democrático de recta no Brasil.
Os áudios revelam conversas entre envolvidos no esquema. Há registros de militares em postos de comando incitando a participação popular na tentativa de golpe. “O povo tá nas ruas, pedindo pra que haja uma outra eleição, de forma que possa ser cobrado de uma forma mais clara. Só quem tem quatro estrelas no ombro não tá vendo isso?”, afirmou um interlocutor incógnito ao tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, que na quadra estava no comando das Operações Terrestes do Tropa, em Brasília.
Um dos áudios mostra Almeida afirmando: “A gente não sai das quatro linhas. Vai ter uma hora que a gente vai ter que trespassar. Ou portanto eles vão continuar dominando a gente”. Num outro momento, ele recebe um áudio de alguém não identificado pela PF: “Tá com susto de permanecer pra história, de expor que fomentou um golpe? É a hora da gente, rostro”. Quando os militares não tinham poder para resolver obstáculos do projecto, eles apelavam que os pedidos chegassem até Bolsonaro. Num trecho, o general Mario Fernandes, recluso desde novembro do ano pretérito, diz para o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do portanto presidente:
“Parece que existe um mandado de procura e consumição do TSE ou do Supremo, em relação aos caminhões que estão lá. Já andou havendo prisão realizada ali, pela Polícia Federalista. Se o presidente pudesse dar um input ali pro Ministério da Justiça, pra segurar a PF. Eu tô tentando agir diretamente junto às Forças. Mas pô, se tu pudesse pedir pro presidente ou pro gabinete do presidente atuar. Pô, a gente tem procurado orientar tanto o pessoal do agro, porquê os caminhoneiros que estão lá em frente ao QG”.
A expectativa de civis e militares de que os comandantes de Tropa, Marinha e Aviação endossassem o golpe aparece em algumas passagens. Fernandes diz em um áudio: “Algumas fontes sinalizaram que o comandante da Força foi ao Alvorada, para sinalizar ao presidente que ele podia dar a ordem. Pô, se o senhor tá com o presidente agora e ouvir a tempo, porra, blinda ele contra qualquer desestímulo. Isso é importante”. A frustração com a resistência de duas das Forças (Tropa e Aviação), o que impediria o prosseguimento do projecto, é relatada num áudio do coronel George Hobert Oliveira Lisboa, portanto assessor próprio da Secretaria-Universal da Presidência da República:
“Agora tá ficando muito simples que o Cimeira Comando do Tropa tá se fechando em copas, talvez com uma maioria contra a decisão do presidente. Mas pensando em primeiro lugar na instituição, no próprio Tropa, quando deveria estar pensando em primeiro lugar no Brasil. Eu sei o quanto o senhor está comprometido com essas ações, o risco que todos nós estamos correndo participando dessa frente”. Também consta numa enunciação dada pelo tenente-coronel Sérgio Cavaliere ao coronel Gustavo Gomes: “Acabei de falar com o Cid, rostro. Ele falou que não vai ter zero. Tá pronto, só que ele não vai assinar porque o Cimeira Comando está rachado e não quer encampar a teoria. Logo, é isso aí, tio. Deu ruim, tá? Acabei de falar com o nosso companheiro lá, ele falou que não vai rolar zero. O Cimeira Comando não vai topar. A Marinha topa, mas só se tiver outra Força com ela, porque ela não aguenta a porrada que vai tomar sozinha”.
Outro áudio mostra o coronel Bernardo Corrêa Netto dizendo ao coronel Fabrício Bastos: “Presidente só faria (o decreto do golpe) se tivesse espeque das Forças Armadas, porque ele tá com susto de ser recluso. Falei com ele agora de manhã”. À TV Orbe, a resguardo do general Mario Fernandes disse que ainda não teve entrada completo ao teor resultante das quebras de sigilo e que a denúncia apresenta exclusivamente trechos desconexos. Os advogados de Cid não quiseram se manifestar, e a reportagem não conseguiu contato com a resguardo dos demais citados.